TRIBUTO AO PAJADOR
I
Um dia surgiu do nada
Como do nada se veio
Sem nunca experimentar freio
Nem fucinheira ou buçal
Tinha um dom natural
Trazido na genealogia
Era o dom da poesia
E um dicionário campeiro
Com o timbre de missioneiro
Do pajador que nascia
II
Criado assim no relento
No campo sem aramado
Meio chucro, retovado,
Guapo e de muito respeito
Jeito simples, era seu jeito
Mas na rima foi letrado
Poeta do verso rimado
Sem canudo de doutor
Foi mestre, foi professor
Na rima era pós graduado
III
O legendário Uruguai
É o Rio Grande que te viu nascer
E que te deu de beber
Na inspiração do teu canto
Também acolheu o pranto
Do missioneiro que não chora
Mesmo sabendo que a hora
Não perde por esperar
Mas não há como não chorar
Quando tu te vais embora
IV
Melenas soltas ao vento
Que os anos branqueou de geada
A voz rouca das pajeadas
Feitas no mais de improviso
Brotando assim sem aviso
Na mente do trovador
Como se o criador
E a própria criatura
Confundisse em uma só figura
Peão, poeta e pajador
V
Tu retratou o Rio Grande
Com versos feito repente
Germinando qual semente
Plantada na terra nova
Fez a rima, deu a prova
“Brigou galo” fez “bochincho”
Ninguém te quebrou o corincho
Cantando versos campeiro
E teu canto serviu de apero
Pra encilhar o “Tobiano Capincho”
VI
És tu a voz do Rio Grande
Do gaúcho insubmisso
Que sabe honrar compromisso
E sustentar o que fala
Tu és a voz que não cala
Que reclama liberdade
Valentia e humildade
Nunca precisou impor
O teu canto tem valor
Porque retrata a verdade
VII
Tu és o gaúcho da gema
Cujo dom é o instinto
Já herdou quando ainda pinto
Sem nunca perder o tino
Um sábio sem ter ensino
Um mestre de mil lições
Foi quem batendo tições
Reascendeu o brazedo
Pra ensinar pro piazedo
O culto das tradições
VIII
JAIME CAETANO BRAUM
Tuas pajadas são lendas
Que ainda hoje encantam as prendas
E fazem arrepiar o gaudério
Os feitos do Tio Lautério
E a “venda do Bonifácio”
O negro “Tio Anastácio”
Que um dia foi teu amigo
E que hoje está contigo
E no céu já fez teu prefácio
IX
Tu és a história viva
Desta pampa legendária
Das reduções centenárias
Misto de santo e guerreiro
De profeta missioneiro
Que revelou as profecias
Em forma de poesias
Cantando este chão sagrado
E hoje o Rio Grande enlutado
Por isso te reverencia
X
Então, quando me dizem
Que o JAIME já morreu
Quero lhes confessar que eu
Não consigo compreender
Como poderia morrer
Alguém que está entre nós
Que ainda ouço a sua voz
Perguntando e a china?
E escuto de relancina
Me deixem com a china a sós
XI
Mas já que te fostes parceiro
Que vá na frente teus versos
Pra que o Patrão do Universo
Dê o paraíso à tua alma
Pra que os anjos batam palmas
Ao ouvir tuas pajeadas
Mostra a família sagrada
De que talento te sobra
E aí, reedite tua obra
Que aqui já está consagrada
POMPEO DE MATTOS
Deputado Federal
PDT/RS