EVOLUÇÂO
I
Eu parei pra olhar o mundo
Só parando a gente pensa
E notei a diferença
Do passado pro presente
E vi que hoje é tudo diferente
Diz que é a tal da evolução
Mas cheguei à conclusão
Ta mesmo louca essa gente
II
E que já não se divertem
Do jeito de antigamente
Os bailes são diferentes
As damas não usam leque
Da valsa, o samba de breque
Hoje só resta a lembrança
Porque a turma mesmo dança
Embalos da discoteca.
III
Eu fui numa dessas festas
E pra não passar por coroa
Pensei, vou entrar numa boa
Como dizem os modernizados
Mas é um corcovear engraçado
Só dançam se negaceando
E uns parecem que andam
Com o pescoço arrebentado.
IV
É sem gaita, sem violão
É som de amplificador
Mas alto e a todo vapor
Não há ouvido que aguente
E até a luz é diferente
É forte como uma praga
E naquele acende e apaga
Esbugalha os olhos da gente.
V
Bancos não tem pra sentar
É tudo no mesmo embalo
É uns andando a cavalo
Nos outros, de qualquer jeito
Vendo tudo que lá é feito
Não há quem não fique afoito
Há meu trançado de oito
Nesta falta de respeito.
VI
To vendo o cantar gaudério
Perdendo pra o iê-iê-iê
Tem índio bagual que sem saber
Bem direito o português
Tentam esnobar um francês
Na maior das palhaçadas
E numa baita barulhada
Querem cantar em inglês.
VII
Também a vestimenta, o cabelo,
Homem e mulher usam igual
E a não ser algum sinal
Que na roupa justa aparece
Eu te garanto, ninguém conhece
Qual é a fêmea, qual é o macho
Nossos costumes, eu acho
Indo assim desaparecem.
VIII
A famosa minissaia
Até que é interessante
Arrojada e provocante
Diferenciando de tudo
Homens ficam barbudo
Pra dizer que estão na beca
Tem velho quase careca
Perdendo pra cabeludo.
IX
E dizem que a moda pega
Que isto já aconteceu
Mas te garanto que eu
To livre deste caroço
Ato um lenço no pescoço
E em qualquer parte alço a perna
Pois sei que coisa moderna
Não entra em couro grosso.
POMPEO DE MATTOS
Deputado Federal
PDT/RS