DÉCIMA DA LEGALIDADE
I
Das reminiscências do tempo
Me rebusco na memória
Para descrever a história
De um feito sem precedente
Heroico, bravo e decente
De coragem e lealdade
Que reafirmou a identidade
Do meu Rio Grande guerreiro
Do gaúcho altaneiro
E amante da liberdade
II
Getúlio em cinquenta e quatro
Sai da vida p´ra história
Mas deixou páginas de glória
Escritas por sua obra
E com talento de sobra
Deixou também como herdeiros
Seus dois fiéis escudeiros
Jango e Leonel Brizola
Cadetes da mesma escola
Irmãos de causa e parceiros
III
Quando as aves de rapina
Viram o suicídio de Vargas
Assustados, baixaram a guarda
Mas não mudaram o ponto de vista
Nem o instinto de golpista
Que o Brasil inteiro sabia
Que o Jango se prevenia
E o Brizola se cuidava
E quando podia denunciava
As trampas da oligarquia
IV
Nas eleições de 60
Foi eleito Presidente
Um Jânio Quadros demente
Com toda sua esquisitice
O João Goulart era o vice
Eleito por outra chapa
E o Jânio com a ideia fraca
Em sete meses renunciou
Eram “forças ocultas”, alegou
Em sua última bravata
V
A renúncia inesperada
Surpreendeu a nação
E os golpistas de plantão
Já logo se apresentaram
Com os ‘‘milicos’’ se juntaram
P’ra impedir a posse do vice
Não queriam que o Jango assumisse
Burlando a Constituição
Dr. Getúlio tinha razão
Em tudo que ele disse
VI
O Jango estava em viagem
Numa missão no exterior
Em seu estilo conciliador
Preparava sua volta
Mas já havia uma revolta
E Contra aquela iniquidade
Em defesa da Legalidade
Leonel Brizola se levantou
E o Rio grande se apresentou
Em nome da liberdade
VII
O governador do Rio Grande
Jovem, corajoso e destemido
Com Getúlio tinha aprendido
Sentir no ar a fumaça
Já chamo o povo p’ra praça
E Relatou a verdade
Pregando a lealdade
Denunciou logo a armação
Defendendo a Constituição
Em nome da LEGALIDADE
VIII
Leonel de Moura Brizola
Reuniu seu povo em massa
E mostrando fibra e raça
O Gaúcho, de prontidão tava em pé
E assim como disse Sepé
‘‘Essa terra já tem dono”
O Brizola com mesmo entono
Exigiu que se cumpra a Lei
Não tem monarca nem rei
Que tire o povo do trono
IX
No Palácio do Governo
O Brizola se entrincheirou
À Rádio Guaíba requisitou
Dando início a transmissão
Falando ao Rio Grande e a Nação
Denunciou a falsidade
E aquela barbaridade
Do golpe que estavam armando
E o povo foi informado
Na rede da Legalidade
X
Foi um rastilho de pólvora
E o povo se alvoroçou
E o Brasil então se acordou
Com a voz firme de Brizola
Mandando que ensacassem a viola
A cupinchada golpista
Desafiando os Lacerdista
E toda sua curriola
Sem dar nem pedir esmola
Fazendo baixar a crista
XI
Os milicos se uriçaram
Lá no comando central
E a ordem do General
Era silenciar o Piratini
Disse o Brizola: “Daqui
me tiram só se for morto”
E o Rio Grande revolto
Já logo lhe deu guarida
Arriscando a própria vida
E o levante ganhou corpo
XII
A população foi armada
E era um só o pensamento
Só usar o armamento
Sob as ordens da Brigada
Que já estava posicionada
P’ra repelir a agressão
Metralhadora, fuzil, canhão
Estavam prontos p’ra peleia
Mesmo vendo a coisa feia
Nunca afrouxaram o garrão
XIII
Golpista, o Ministro da Guerra
General Odílio Diniz
Em sua ordem, ele diz:
“Façam o Brizola calar”
E se for preciso bombardear
Podem até usar avião
Aeronáutica tá em prontidão
Se preciso, usar a Marinha
E todas as armas que tinha
Para cumprir a missão
XIV
Ao III Exército cabia
O cumprimento da ordem
Mas num ato de desordem
Machado Lopes, o Comandante
Não deixou que fosse adiante
Disse que era inconstitucional
Orlando Geisel, o General
Ficou sozinho falando
E foi perdendo o comando
Do Exército Nacional
XV
O General Machado Lopes
Foi ao encontro de Brizola
E tinha uma ideia na cachola
Se juntar aos legalistas
Que em seu ponto de vista
Estavam com a razão
Defender a Constituição
E fazer cumprir a Lei
Como soldado eu jurei
E é o que exige a nação
XVI
Brizola e Machado Lopes
Foram do Palácio à sacada
E a multidão preocupada
Com o desfecho da visita
Pois sabiam da ordem escrita
E queriam uma definição
Mas quando o ‘‘Briza’’ ergueu a mão
E abraçou o General
Foi um gesto triunfal
Que emocionou a multidão
XVII
Estava feita a aliança
Do povo, da Brigada e do Quartel
E cabia ao Brizola o papel
De comandar as ações
E de anunciar p’ras multidões
Que avisassem os golpistas
De que as forças Legalistas
Tinham uma só ideia na mente
Ver o Jango presidente
E não tem preço esta conquista
XVIII
Também no nosso interior
O povo estava empolgado
Com o exército de aliado
Desde lá de Uruguaiana
De Bagé, São Gabriel e Santana
Até Santiago do Boqueirão
Onde lotaram vagão.
Era a Legalidade nos Trilho
Com o Rio Grande Caudilho
Fazendo Revolução
XIX
A tropa estava reunida
Dentro do trem Legalista
E a ordem, era limpar a pista
Até a boca do monte
E ali fazer o apronte
Para montar a trincheira
Proteger divisa e fronteira
Seguindo no mais seu destino
P’ra Passo Fundo e Marcelino
Hasteando alto a bandeira
XX
E assim em todo Rio Grande
As forças se levantaram
E com o povo se juntaram
Formando a resistência
Unidas, tinham consciência
Do perigo eminente
Mas o que não faltava era gente
Disposta ao sacrifício
Cumprindo bem seu ofício
P’ro Jango ser Presidente
XXI
Estava montado o aparato
Todos já em prontidão
Dando assim a proteção
Para que o Jango voltasse
E no Rio Grande chegasse
E fosse bem recebido
Pela multidão aplaudido
Como novo presidente
De um povo já bem consciente
Pelos momentos vividos
XXII
O Jango voltou p’ra casa
Num retorno triunfal
Porto Alegre, a Capital
Ficou pequena p’ro ato
Correu no mundo o relato
E a coisa se normalizava
Só que Brasília negociava
Uma saída honrosa
P’ra que a oligarquia poderosa
Pudesse ficar onde estava
XXIII
O Congresso Nacional reunido
Num misto de eufemismo
Aprovou o Parlamentarismo
Num mero ato casuísta
Dando ares Legalista
A posse do Presidente
Confundindo muita gente
Que não entendendo a intriga
Acabaram assim com briga
Mesmo estando descontente
XXIV
O Jango assumiu o cargo
Com poderes limitado
Mas tendo o povo ao seu lado
E um jeito conciliador
Mostrou logo o seu valor
Aprovando um plebiscito
Mudando o que estava escrito
Deu fim ao Parlamentarismo
Voltou o Presidencialismo
Acabando com o mito
XXV
Por isso que hoje recordamos
Daquele grande levante
Ato dos mais importante
Que o Rio Grande sustentou
E que na história marcou
Pela coragem e ousadia
E ali o Brasil conhecia
Um novo líder, destemido
Pelo povo reconhecido
Por defender a Democracia
XXVI
E foi assim que surgiu
O Brizola para o Brasil
Este líder varonil
Ganhou nome e conceito
Ganhou também o respeito
De todo povo brasileiro
Tanto que o Rio de Janeiro
O chamou p’ro seu Estado
E o elegeu Deputado
Em mais um feito pioneiro
XXVII
Hoje o Gaúcho se orgulha
Daqueles atos de bravura
Que marcou nossa cultura
E consagrou o Brizola
P’ro Brasil serviu de escola
E exemplo a ser seguido
E o Rio Grande destemido
Apesar dos desenganos
Passados 50 anos
Comemora o acontecido
XXVIII
Esta é uma homenagem
Aos valorosos guerreiros
Gaúchos e brasileiros
Que se levantaram em armas
Hoje todos batem palmas
Num pleito de gratidão
Para esses dois guardião
Leonel Brizola e Jango
Que uniram Maragato e Chimango
P’ra defender a nação
XXIX
Os tempos hoje são outros
E o Brasil vive em paz
Mas não esqueçam jamais
Das lutas dos nossos bravos
Nosso povo não é escravo
Por ter virtude e coragem
Não aceitou a vassalagem
Nem tão pouco a ditadura
E que as gerações futuras
Guardem bem esta mensagem
XXX
Não tem preço a liberdade
Pois a liberdade não tem dono
O homem livre é patrono
Do seu próprio destino
E este Brasil menino
Que viu a ditadura um dia
Por seu povo em maioria
Na pátria verde e amarela
Jamais aceitará a tutela
E viva a DEMOCRACIA
Autor:
POMPEO DE MATTOS
Vice-Presidente do PDT
para a Região Sul